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quarta-feira, junho 20, 2007

A casa dos alvarengas / lembranças

eu tinha sete anos quando minha mãe me esqueceu na biblioteca do grupo escolar de demonstração do instituto de educação.
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naquele tempo, minha mãe nos buscava na escola, e depois pegávamos o bonde para a nossa casa. duas vezes por semanas eu fazia aulas de balet. então era uma farra....
subíamos todos a pé pela rua pernambuco até a escola de dança clássica.
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me lembro que naquela tarde ela nos disse que passaríamos na biblioteca para fazer ficha, pois ela queria pegar uns livros da M. Delly para ler.
minha mãe sempre segurava com força a mão de minha irmã. ela tinha um mêedo enorme de que os ciganos a levassem e eu cresci ouvindo essa história...
o prédio côr de rosa do Instituto de Educação sempre me pareceu enorme, e naquela tarde não era menor. adentrando pelas escadarias da frente passamos pelo hall e a direita ficava a porta da biblioteca. não saberia dizer como é hoje.
nunca mais voltei lá.
eu, fascinada com o tesouro da juventude, enquanto minha mãe fazia a ficha, fui me envolvendo com os corredores e metendo no meio dos livros.
não sei desde quando aprendi a ler, mas quando entrei para o grupo eu já havia lido meu missal inteiro. o primeiro livro da minha vida foi meu missal. era um livrinho lindo, capa de madreperola e ouro nas bordas das folhas. com ele eu acompanhava a missa. nas páginas amareladas, desenhos dramáticos da paixão de Cristo e de anjos da guarda.
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só percebi que foi ficando escuro e tive que procurar a claridade das janelas para ler a história do felipe da macedônia. a sala enorme e cheia de estantes estava silenciosa.
olhei em volta, e não vi mais ninguem. não tive medo. não havia ciganos por lá.
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o barulho que escutei por longas horas, penso que eram ratos andando pelo teto e pelo chão. subi da cadeira para a mesa grande, e enrosquei minhas perninhas ...
dois exemplares do mundo da criança me serviram de travesseiro.
eu não fechei os olhos.
pensei ver todos os personagens, como na história do soldadinho de chumbo.
achei que eles sairiam dos livros e viriam conversar comigo.
o silêncio permanceu e eles não apareceram.
minha mãe havia resolvido levar muitos livros e ficou sem mãos para segurar a minha.
fiquei então assim, quietinha, até o grande barulho da porta se abrindo, as lanternas iluminando, meu pai chegando com meu avô para me buscar...
não gosto de bibliotecas.
nunca mais voltei naquela do instituto de educação.
acho que bibliotecas são lugares onde o escuro chega muito depressa.

marilia / livro I

17 comentários:

Anônimo disse...

que do.... esquecqram de mim.... fico imaginando a cena, oh, do...

O Meu Jeito de Ser disse...

Ô dó!
Esquecer uma filha por falta de mão para segurar, tadinha.
Na nossa infância acontece coisas que nos marcam para sempre.
Você vai sempre ligar essa sensação de medo, de abandono à qualquer que tenha muitos livros.
Que bom, que pelo menos dos livros vc não ficou com medo né?
Beijos querida.

Luma Rosa disse...

Será que essa história de ciganos é coisa de Minas Gerais? Minha mãe também falava isso. Me botando muito medo.
Mas ao contrário de você, tenho boas recordações de bibliotecas. Lembro até do cheiro. Uma mistura de livro guardado com cera de carnaúba. Do sol refletindo no tablado e do som dos passos quando pisavamos.
Medo eu tinha do escuro, por isso, não abria os olhos quando acordava no meio da noite.
E por terrível coincidência, me perdi na cidade de Aparecida do Norte quando tinha 5 anos e quem cuidou de mim, foram ciganos.
Bom dia!! Beijus, Luma

Anônimo disse...

Oi Marilia bom dia.
Marilia,voce deitada na mesa grande
tendo dois livros como travesseiro,
esperando o desenrolar dos fatos,
que gracas a Deus terminou tudo bem
sem ciganos a molestar voce, lembra
cena de filme PB desses que passam
no telecine Premium. Gosto quando
voce conta suas reminicencias, voce
as coloca de tal forma, que a gente
consegue visualisar os fatos por vo
ce relatados. Vai saber escrever
bem assim la na TOCA DA RAPOSA. Parabens

Monica disse...

eh...
tbe adoro suas histórias...
bj carinhoso...
mais vc
mais vc
mais...
bj

valter ferraz disse...

Marilia,
Não precisa desgostar de bibliotecas. Tem uma ótimas.
Agora uma broca: tira essa p* de moderação de comentários, é uma caca isso. Me dá nos nelvos,
eca!
beijo

Carlinha Salgueiro disse...

Caracoles, ainda bem que você não deixou de ler por causa disto!
Mas, que a história é fantastica é!
Beijocas!

Mineiras, Uai! disse...

Que fantástica história, Marília! Escreve mais? Continua esta? Conta mais causos?
Amei muito!
Bjos
Ana
www.mineirasuai.blogspot.com

Yvonne disse...

Marília fofíssima, adoro ler recordações. É uma das coisas que mais gosto nos blogs. Conta outra história do tipo, tá? Beijocas

o alquimista disse...

Gira a vida em sua roda, invisível, celebro os dons da terra com a aurora, no espelho desta lagoa em arrepio, vejo um conhecido rosto que chora.

Bom fim de semana

Doce beijo

Anônimo disse...

Ydizinha, está descoberto a razão dos tarjão pretos rsrsrsrsr que dó! foi abandonada rsrsrsrsrs Amor, eu tb não gosto de bibliotecas e nem de museu, aliás tudo que é escuro e sombrio me entedia, eu gosto de tudo branco, ver a coisa preta é muita exceção rsrsrsrsrsrsr beijos, Gdá.

marilia disse...

GDÁZINHA, CONHECE ALGUMA ALVARENGUINHA SEM TARGINHA?????

Anônimo disse...

Nossa dotôraaaa... num sabia desta! heaehauhauiauhi, desculpa rir mas... que bonitinha, ficou comportadinha!

bjus

Anônimo disse...

Me lembro bem, saíamos do Rio no SKODA do Tio Tuca. Atrás do banco do passageiro, tinha um fundo falso,onde se fazia xixi, vomitava e etc.As viagens eram sempre legais. Chegávamos em São João del Rei. Era como se fosse um sonho. São João, a vovó e o vovô, os vizinhos,os amigos, os primos e primas, lindos,radiantes. Faz parte desse capítulo, o cemitério da igreja de São Francisco. As estórias são encantadoras. Sempre,de noitinha, nos reuníamos e iniciávamos um "pique esconde" pra matar. Era foda,por que tínhamos todo omorro pra se esconder,e o pátio de cemitério era bem procurado. Me lembro que o coveiro ficava puto, e saía correndo atrás dos meninos quando ele dava ronda.Desculpe,continuo depois,essa porra de máquina me dexa puto!!

marilia disse...

aNÔNIMO, NÃO SEI QUEM VC É, MAS É A PRIMEIRA E ULTIMA VEZ QUE COLOCO SEU COMENTARIO NO BLOG ... SE QUISER FALAR TEREI O MAIOR PRAZER... E FICAREI FELIZ EM COLOCAR SUAS LEMBRANÇAS...MAS , IDENTIFIQUE-SE,POR FAVOR...

Anônimo disse...

IDY,

CLARO QUE DEVE SER O BIBA !!!, PELO JEITÃO DE FALAR COM CERTEZA É ELE, ENFIM, PRA VARIAR ADORO LER O QUE VC ESCREVE... E QUANTO A ALVARENGA SEM TARJA PRETA, AQUI TÁ UMA - EU !!!!!

BJS
DE

Rosi disse...

Menina
Tô até agora duvidando se essa história aconteceu de verdade com vc....ai que dó.
Tomara que o episódio da biblioteca não tenha afetado a sua paixão pelos livros.
Um abraço