Layout / Art: Ana.

sábado, junho 30, 2007

Cadê o povo que corria comigo????


As "confusões", as tramas palacianas são tradição nas grandes monarquias. Todos os palácios guardam segredos, possuem portas secretas, saidas que levam os governantes para o outro extremo do pais. Aqui, nessa terra onde tem palmeiras e canta o sabiá, tudo é diferente. Nossos palácios são feitos de portas e telhados de vidros, e as saidas sequer são secretas. Os governantes e seus segredos, entram e saem pelas mesmas portas, devassando o interior sem qualquer preocupação em limpar e ou jogar por baixo do tapete a sujeira deixada nas salas e nos corredores. Ando triste com minhas ideologias. Ando triste com meu país.
Em 1984 fui pela primeira vez a Cuba. Era a realização de um sonho de juventude, um sonho de qualquer estudante de Direito, e de quem tivesse feito ciências sociais na Fafich, ( as salas de aula eram no sub-solo....)
Fomos em um voo fretado, com autorização do governo, pois até então não tinhamos relações diplomáticas com a ilha de Fidel.
A turma a bordo, era composta da todas as castas de esquerda e até hoje agradeço ao meu projetinho apresentado na Secretaria de Estado da Cultura de Minas Geriais, o qual me permitiu comparecer no prestigiado Congresso que aconteceu em Havana.
Mas, para mim, foi o começo da queda e , acreditem, foi minha primeira grande decepção com tudo que havia acreditado desde a mais tenra adolescência....
A pobreza, a fome, o desespero das pessoas por um dolar, por um sabonete...
Claro que teve o lado charmoso, morritos e daiquiris, solenidades com o grande chefe, ( vi Fidel bem de longe, mas vi...), apresentação de ballet e visitas ao malecon e por toda Havana Velha...
Passeios a Varadero, comidas e lagostas deliciosas, mas... meu Deus quanta tristeza eu vi...quanta pobreza...quanta fome...Voltei de lá completamente deprimida, pois havia conversado horas com muitos cubanos e cubanas, e lá conheci a lenda de que Fidel havia mandado matar Che Guevara, ora,ora, jamais poderia existir mais que um comandante... Lá descobri que a Ditadura comunista era pior do que a que havíamos sobrevivido....
Voltei a Havana alguns anos depois. Nada havia mudado, só a pobreza ...havia crescido!
Só descobri os livros do Gutierréz..
Grande homem soterrado na desilução, e contraditóriamente na força de resistência do povo mais musical e cantante que conheci - os cubanos! (?)
A mesma sensação de frustação e de haver acreditado em alguma coisa que nunca existiu anda rondando minha cabeça nos últimos tempos. O Brasil livre, o Brasil com Lula, o Brasil do Pt, o Brasil pelo qual eu "passietei" = passeatas.., anos de minha vida, talvez não exista, ou acho que jamais existiu. Fico me perguntando onde estão meus colegas de faculdade, meus amigos mais velhos que me buscavam no Colégio de Aplicação para descer correndo a Rua da Bahia e para juntos, com a turma do Direito, sairmos da porta da Federal, e com todas as forças e contra todas as forças gritar abaixo a ditadura???
Ah, que texto quixotesco esse meu.
Achar que hoje, 2007, quando a Apple esta vendendo o Iphone com filas em sua porta há dias, alguem vai se importar em fazer passeata para prender "meninos ' que batem em prostitutas e velhos", batalhar pela paz no Rio, pelo desarmamento das favelas, pela ÉTICA no governo?
Alguem estaria preocupado com alguma coisa além de pagar suas próprias contas e resolver seus próprios conflitos? Que saudades dos velhos tempos que a gente corria das bombas e dos cavalos perto da igreja São José, mas tínhamos certeza... certeza de que chegaríamos em algum lugar. Bom, tudo isso, essa historia triste e essas lembranças por que a Maria Júlia está fazendo um trabalho sobre as músicas de Chico buatque e suas metáforas, no período da Ditadura....
Acho que tenho pena de quem nunca teve o sonho de viver em um país melhor.
O país da minha filha é cheio de Mickey Mouse, competições onde sempre vencem os que deveriam vencer mesmo, porque estudam nos melhores colégios, onde o objetivo é ter nota para ir estudar em NYC ... Não é o Renam... Não é oRoriz...Não é O Lula...Não são os bingos ou os irmão que nada sabem de nada! Não são os ladrões de dinheiro publico, não são os assassinos de crianças, ou mesmo os traficantes... E´esse estado de espirito do meu país...
Sou woodstock, falo Go Home Yanckes, sou da turma que fala francês e acredita até hoje naquele negócio de liberté, egalité et fraternité...Me sinto uma boba, ao me emocionar ajudando a Mali fazer sua pesquisa. Eu vivi a história..
Coisa doida...

8 comentários:

Priscila Pires disse...

Poxa...eu gostaria muito de ir para Cuba mas jah escutei da pobreza...do povo pedindo shampoo e sabonete nas ruas para os turistas...
Infelizmente eh triste...
Mas ainda sim quero conhecer...
bjo mamis!

Anônimo disse...

Apesar de saber da verdadeira Cuba eu ainda tenho vontade de conhecê-la,quero estar presente nesse mundo, ver de perto essa vida.
Sua emoção ao pesquisar com sua filha é a mais honesta, é sua vivência, é sua participação ativa nessa história, é sua decepção, é seu orgulho também.
Lindo e tranquilo findi, flor
beijosssssss

[Sobre meu comentário no caso da vaca, depois que saí daqui me dei conta do que falou, desculpa minha alienação, mas entendi sim o que disse].

Anônimo disse...

Oi Dotôra; mais um post belíssimo!!
Depois me faça uma visitinha lá que tenho uma surpresinha, espero que goste! Mais uma arte pro seu cantinho aqui!
Bjuss e ótimo fds...

Anônimo disse...

Não! coisa doida nada...vc está certa!! Tbm me pergunto onde se escondem os idealistas, me revolto ao ler noticias como o da empregada agredida por "filho de papai", me revolto com a palhaçada no senado, e no governo Lula, me revolta saber que existem pessoas querendo trazer de volta a censura, mas o que me deixa mais revoltada é saber que "nós" não fazemos nada, ninguém fica indignado com mais nada...virou terra de ninguém...
Mas saiba: Estou com você nessa!!!
e digo mais...ainda acredito, preciso acreditar, não por mim, mas pelo meu filhote lindo de apenas 2 anos...

Desculpa pelo comentário lonnnngo...rs
Bjão e ótimo fim de semana pra vc tbm..

Carlinha Salgueiro disse...

Acabei de dizer para Yvonne que adoraria ter sido jovem no ano em que nasci... Viver tudo isto, lutar, sonhar, acreditar... Outra hora, com calma, te conto que já corri de cavalaria, tropa de choques e invadi a reitoria da minha antiga faculdade em 2000. Isto me realizou um pouco, pq nossa luta valeu a pena...
Agora vou curtir minha fossa com uma taça de vinho e um cigarro!

Yvonne disse...

Marília, você é uma pessoa que teve uma vida cheia de emoções. Caramba!!! Esteve na ilha do homem? Querida, por essas e outras que adoro freqüentar o seu sagrado espaço. Beijcoas

Anônimo disse...

Marília, fantástico seu texto, suas memórias, sua história. Lembrou-me de um texto no www.canisfamiliares.blogger.com.br do Thiago Quintella, com uns poemas... vc tem que ler.
Gostaria muito de ir a Cuba. Já ouvi estes boatos loucos, e já ouvi da pobreza. Conheci alguns cubanos em 2 cursos de Ballet Clássico, em SP e em Vitória, e ao final eles pediam que doássemos nossas sapatilhas e roupas velhas de Ballet para levar de volta à ilha. Olha que loucura? Isso me impressionou demais. Mas a musicalidade e a alegria daquele povo me contagiam, e me fazem querer ver de perto tudo isso que vc contou!
Bjo,
Ana.
www.mineirasuai.blogspot.com

Anônimo disse...

Ydiiiiiiiiiii como lembro da Jojô e de vc nessa época... éramos inseparáveis né? tempo bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! bjs