Fechando bem meus olhos, consigo ver o quarto da vóvó.
Recordo a cena. Acontecia sempre. Pelo menos, duas vezes ao dia.
Eu na sala, aquela onde ficavam os sofás, pela porta entreaberta via de perto - reflexo do espelho - ela mexendo nas chaves, abrindo o armário do meio, tirando qualquer coisa e escondendo sob seu avental! Ah.... os biscoitinhos! Eu olhava pela fresta e lá estava a Maninha, ou a Magda, magrelinha.
Algumas vezes vi a Mirinha...
As donas do bem querer da minha avó.
As donas dos biscoitos e das latas de leite condensado, quitude mais disputado na época!
Também foi naquela sala que fiquei durante o velório de minha avó Adelina.
O caixão, lá pra dentro, em cima da mesa de jantar.
O cheiro das velas, vozes, rezas se misturava com os odores da cozinha.
Afinal, velório dos bons, tem comida e bebida e personagens inesquecíveis.
O da Vóvó não foi diferente! Além da velha que repetia sem cessar - " num tem mais seculorun não" quando minha mãe ou outra das noras puxavam o terço, havia Seu Moisés Hallak, que não perdia a pose apesar de ser o soltador oficial de "puns" em solenidades, e sempre alguém trazendo pelo corredor uma bandeja de pastelzinho, saciando a nossa vontade, como que de pirraça, na frente daquela que em vida controlou sempre o que se comia em sua casa!
O enterro e o velório da Dona Adelina foram dos mais concorridos.
Já não era somente a morte da mulher do Paulo alfaiate, era sobretudo a da mãe do "dr. Nelson, médico da filha do JK" e quem havia recebido, em vida, o presidente da república em sua casa!
Quando escrevo essa parte da história, me lembro duas vezes da Mirinha minha prima.
Uma, dela na foto da festa do JK, comendo uma empadinha toda esparramada numa cadeira, e outra, no dia do enterro. Foi quando ela fez, pela primeira vez, o " lá vem a sinhá marreca"!!!! Estava o velório entrando noite afora, e nós, netos e netas, primas e primos, sem lugar certo para dormir, cansados, espremidos e sonolentos, na sala.
Brigando por um lugarzinho no sofá, levei um susto quando a porta do corredor, que dava para dentro, se abriu. Primeiro, não entendi nada, depois o riso rolou solto!
Entrou a Mirinha, chapéuzinho de palha na cabeça, um balaio debaixo do braço, segurando a saia com a outra mão, cantando e rebolando " que neim marreca", levando sua sinhá pela sala!
Foi uma ovação, e o barulho das nossas risadas abafou de vez o "seculorum amém" das carpideiras. A marreca cantou até o tio Osvaldo entrar e acabar com a farra, por que o papai, o tio Cáca e a tia Yolanda já haviam tentado, mas ficaram lá morrendo de rir sem conseguir nos calar! Do velório da minha avó essa é a lembrança mais viva que tenho.
Layout / Art: Ana.
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8 comentários:
o cheirinho da casa da vóvó...eu me lembro..eu me lembro...
sabia que o JK, já presidente, foi padrinho de casamento do Dr. Nelson, e mamãe foi de batedores para seu casamento?...
e os ladrilhos cor de rosa do banheiro do corredor, com aquele chuveirinho de plástico que quase não saía água???...
Ah...suas histórias me fazem lembrar muito da minha família, tb. Q tb é mineira.
A mulherada toda no banheiro, cada uma fazendo uma coisa, aiiiiii que saudades!!!!!!!!
Gente, quem é essa tal de Carrie? estranha mesmo né? será o(a) PI?
a carrie eh bacna. ela nao eh estranha nao, esse eh so o pseudonimo dela.
Ué, pq vcs estão implicando com Pi e não com a Carrie? temos que descobrir quem é, ou é vc Joana?
Vou defender agora Pi de unhas e dentes, eu heim????????
É só ir lá no meu brogue pra descobrir quem eu sou! Carrie, a Estranha é um personagem do Stephen King, q tem poderes telecinéticos e eu adoro. No fundo acho q todos somos estranhos. Alguns mais, outros menos. Mas de perto ninguém é normal.
Então... Viva os estranhos!
Bjs
ahahahah
adorei carrie...
puxa a perna delas!
bjos
Ai queridinha Carrie, com certeza a mais estranha de todas ou todos. Todos nós sabemos que Carrie é uma personagem... ou achou que acharíamos que seria criação sua? rsrsrsrs, mas em uma coisa eu concordo com vc, ninguém é mesmo normal e graças a Deus!!!!
valeu CARRIE!!!!!!!!!
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