nas mãos inchadas as marcas de mais um dia.
um dia de trabalho silencioso, varrendo corredores, os quais ela chega ao fim vendo a poeira retomar o lugar pelo caminhar constante e rápido das pessoas que pegam o trem.
as vezes se pergunta porque haviam contratado alguém para limpar uma estação que estava sempre cheia e suja? - que diferença faz a sua passagem por lá?
voltando para casa mantinha os olhos abertos.
não dormia mais no onibus.
antes ela ainda descansava, sabia que o trocador a chamaria na hora de descer, e aqueles minutos de sono a animavam para o serviço em casa...
mas agora, com a morte por perto, tinha medo de fechar os olhos.
morte de Nenzito.
morte boba, atoa, sem sentido.
cortaram-lhe a garganta.
de um canto até o outro.
assim, com todo mundo vendo, e ninguem falou nada.
há muito perderam a voz.
por 5 reais...ele não tinha.
o moleque não tinha um tostão quando lhe cortaram a garganta.
alguem falou quando ela foi reconhecer o corpo, que a moça do banco da frente tentou acordar ele, tentou até dar o dinheiro para o outro, menino também, mas ...ele não quis, não esperou. queria mesmo era sangrar alguem.
calar a voz pois a ele não escutavam há tempos.
era porisso que ela não fecharia mais os olhos.
seu filho morreu assim. sonhando.
morte boba. - ela sempre "se' repetia.
na vida o medo venceu o cansaço e ela ainda foi varrer seu chão, lavar a roupa, pegar o neto na vizinha, e preparar a marmita para amanhã.
Dinalva ainda tinha muito chão pra varrer.
não dorme mais. fica de olho aberto. assim ela acredita que alguem vai ouvir a sua voz e nunca cortar sua garganta. de uma ponta até a outra.
não se sente dor nessa história.
by marilia / out./2005
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17 comentários:
Marília, uma crônica escrita em 2005 e que ainda é atual. Lembrei-me da empregada espancada. Leia o meu post de hoje. Beijocas
yvonne, é incrivel, mas parece mesmo que nada mudou!!
quando vamos reagir//claro que vou lá... sempre ...
adoro suas saladas e suas cronicas...rss
Marília, vai lá no meu blog de novo e veja o update que eu fiz para dizer que o post de hoje da Sandra está maravilhoso, rsrsrs. Nós mulheres entendemos muito do assunto, rsrsrs.
Querida, obrigada pelo comentário maravilhoso.
Beijocas
Marília,
não tô falando?
Precisa escrever, dona!
Eu vejo flores em você, menina
Um beijim
ei marilia, nem consegui ler seu post de hoje, tô passando pra te avisar que tem masi uma indicação pra você, a minha.
Mais tarde volto, para ler melhor.
abraço.
Certo dia desses, conheci um varredor de medos...
Juro!
Bom Blog!
Certo dia dsses, conheci um Varredor de Medos, juro!
Bom Blog!
Liris Letieres
Pois é...infelizmente o povo se "acostumou" a tudo isso, a violência está cada dia pior,e eu escuto: "É...fazer o que, é assim mesmo!!"...
ótimo dia..
O mais triste disso tudo, é que a cada dia que passa, as pessoas tem mais e mais medo de viver.
A presença da morte torna-se cada dia mais iminente.
Vamos animar essa mulher, precisa escrever, e escrever muito.
Não guarde todo esse dom, vc é ótima.
Não tenha medo, jogue-se, o que virá depois, vai mesmo de qualquer forma, então "RELAXA E GOZA".
Vai fundo
beijos
ai essa violencia eh de matar neh??
vou estranhar tanto qdo voltar ao Brasil...eh de assustar qq um. Ainda que uma cronica nao passa da mais pura verdade...gente matando por um tenis, um bone...5 reais...um absurdo!
enfim...
vivo a me perguntar se isso vai mudar algum dia!
bjo mamis!!!
e esta é a trsite realidade de nossos dias...
bjs
as coisas estão mudando sim... vcs estão enganados.
infelizemnte estão mudando pra pior, muito pior.
beijocassss amiguinha, como sempre mandando muito bem!!!
ahhhh... bigada pelo link!
uhuuuuuuuuuuuu!!!
beijocasssssss...
Texto bem escrito e forte, Marília!
Obrigada pelas palavras tão simpáticas e incentivadoras! Beijos!
Marília cronicando!! Grande surpresa!! Texto denso!
Te vi no Blogblogs, ia te adicionar, mas cadê o blog? (rs*)
Beijus
nossa que triste
Ei jojo...a mamãe adora qdo vc aparece aqui no blog,nem que seja só pra dizer um alô... ( nossa rimou!!) rss
vc é a pessoinha mais querida e doce que a mamãe conhece... te amo....
bjos
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