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terça-feira, julho 24, 2007

A casa dos Alvarengas


Esse texto faz parte de uns guardados que tenho sobre os Alvarengas. Postei ano passado, e ele volta hoje um pouco diferente.
A água que descia do lenheiro era marrom.
Para nós, não tinha cor mais linda, e nem água mais milagrosa.
Chovia sempre em dezembro, em janeiro, e as vezes até no carnaval.
E dia de chuva, era melhor que dia de coroação ou de procissão!
Ah...quantos barquinhos de papel a gente colocava na enxurrada.
Tenho pena de minhas filhas, que nunca colocaram barcos de papel em enxurrada!

A gente ( eu e minhas primas) podia, quando dava uma "estiada", correr pro cais, e ver o rio, enorme, cheio e marrom, quase alcançando a ponte de ferro, e bem pertinho dos nossos pés....
A água passava forte, levando tudo, e os nossos pés balançavam e quase a gente ia...
Deliciosas chuvas que enchiam de água marron o Lenheiro!
Tá, todo mundo vai falar que viveu infância igual, que em todas as casas de avós era assim,
Mas essa história é diferente.
Ela é a minha história.

Por acaso voce já teve avô que quando não podia pagar o colégio para os filhos ia pro confessionário da capela do colégio ( o santo antônio) e falava:
- Frei, preciso me confessar.
- O que foi , Paulo, diga meu filho...? ( o Frei conhecia todos...)
E meu avô respondia :
- Vou pecar Frei, vou roubar...
- Mas , Paulo meu filho, não faça isso...voce sabe que é pecado... Deus vai te dar forças..
- Não Frei, eu preciso roubar, estou desesperado!
- Estou precisando de dinheiro, ...
- Mas , Paulo por que, para que?
- Ah Frei, quer mesmo saber?
- Claro meu filho, quero saber, e farei de tudo para impedir que voce cometa um pecado..
- Então vou contar:
- preciso de dinheiro para pagar o senhor, por que meus filhos precisam estudar e não pago o colégio há tres meses...eles estão proibidos de entrar ...
Esse era o meu avô...
Claro que o padre liberou o débito, deu bolsa de estudo para dois, e ainda morreu de rir como meu avô o havia "pegado"....

Voltando às águas que sempre descem lá do lenheiro e percorrem a cidade , e vão até o mar passando e molhando caminhos dos mais lindos, vou contar também, que no verão, muitas vezes meus primos mais velhos e a turma deles, pegavam pneus de caminhão, e desciam o rio dentro, fazendo dos pneus enormes boias...
Mais de uma vez foram assim até Tiradentes....
By Marilia
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Trecho de Carlos de Laet, em seu livro "Em Minas", quando se refere ao córrego do Lenheiro :
"Quem olha para o riacho, minguado em água, mal compreende porque tão elevadas se fizeram essas arcarias, porém mal raciocinaria quem condenasse por inútil a luxuosa cautela dos construtores. O ribeiro, por ocasião das enxurradas, faz-se torrente e mesmo rio. Em sua carreira vertiginosa arrebataria obstáculos que com menos resistência lhe afrontassem o ímpeto... Imagem verdadeira de um povo pacífico, cuja força mal se deixa suspeitar, mas contra quem, nos seus grandes momentos de cólera, todas as preocupações não podem ser demasiadas."

11 comentários:

Anônimo disse...

Marília, seus guardados estão cada vez melhores. To adorando vê-los publicados.
Abraços,
Mário.

Priscila Pires disse...

Puxa tb nunca coloquei barquinhos no rio... :(
bjos mamyssss

Anônimo disse...

Marilia,
os rios de Minas sao assim, eu sei, e com vc viajei a minha infancia ali vivida, dos pic nics na beira do rio, dos balanços de cordas....Tempo q nao volta.
bjs

Anônimo disse...

Lembrou meus tempos de guri, no interior, brincando na sanga que ficava ao fundo do sítio dos meus padrinhos. O mundo vai mudando... bjs

O Meu Jeito de Ser disse...

Também fui longe agora. Não nas águas do lenheiro, mas nas águas dos córregos de minha infância.
Cheguei até a recolher gelo, depois de uma grande chuva de pedras.
Beijos meu bem.

Anônimo disse...

que saudades, voce esqueceu de citar toninho avila, que reliquia. lembro perfeitamente deste tempo, era so alegria, hoje... nem se fala. beijos, me liga.

valter ferraz disse...

Marília,
deixa fluir a escritora que se esconde por trás da advogada; escute o que te falo. Não costumo me anganar.
Um beijo, menina.

marilia disse...

valter, quem sou eu...ainda não aprendi nem a minha lingua pátria! rsssssss
adoro escrever essas coisa, que nates não eram avaliadas, e hoje me sinto super responsavel ,pois cada post que coloco gente bacana como vc pode ler... fico feliz com o elogio... vc é da turma dos que eu tenho medo...vc é dos feras...rssss

Anônimo disse...

Marilia, adorei a história (estória, como quer o Valter Ferraz, tudo bem).
Marilia, eu tinha uma avó, madastra de meu pai, muito velhinha, que ia à missa todos os dias. Até aí nada demais. Só que ela costumava acordar eu e meu irmão às 3 horas da manhã para perguntar:
- Que horas são, meninos?

Beijos

PS - O Sr. Ferraz está certo, Marilia. Você não publica livro porque não quer. Escreve muito bem, gostoso de se ler, e tem histórias curiosas para contar.
Beijos

Monica disse...

uauauauauauuuuuauau
rsrsrs
bjs
pripa

valter ferraz disse...

Marília, não precisa ter medo de mim. Sou aprendiz de escritor ainda, e outra coisa: jamais corrigiria alguém. Em casa temos um ditado: "macaco, olha primeiro o teu rabo".//

Adelino, já aprendí que não é "estória" e sim, história, viu?

Um beijo, menina
Um abraço, Adelino