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segunda-feira, setembro 25, 2006

Clausura

Estou fazendo o caminho de volta. Santiago de Compostela, as avessas.

O Mosteiro que fica na rua da Prata era para mim mistério e significado de prisão eterna.
Minha mãe dizia que tinhámos que passar em silencio na porta, para as irmãs de caridade não ouvirem sequer a nossa voz.
- mãe, mas elas ficam presas, sem sair ?
- é, rezando, vida abençoada a delas !
- como mãe, sem ver ninguem? nem a outra que esta do lado?
-é minha filha.
-mãe, elas que escolheram?
- ah...algumas sim, outras cometeram pecado contra a carne... e os pai as enviaram para serem perdoadas...

Essa conversa, é arrêmedo das que eu tinha com minha mãe, quando pequena e sempre que passavamos na frente do mosteiro. Muitas vezes, fugia da casa da vóvó, e tantas eu fiquei do outro lado da rua, sentadinha no meio fio, olhando para o Mosteiro, sempre fechado, pra ver se mexia a cortina de alguma janela. Nunca vi qualquer movimento.

Nas procissões, eu ia vestida de anjo, como minhas primas.
Sempre, ao passar diante da capela do mosteiro, todos paravam, o andor com o santo principal, o pálio com o Santíssimo, os homens com as suas capas da irmandade e com as lanternas na mão, a música, o povo, e então, fazia-se um silêncio absoluto.
Minutos depois, da janela mais alta do claustro, aparecia uma mãozinha, delicada, rápida, que jogava uma flor, ou algumas pétalas no santo ou santa que estava sobre o andor.
Pronto. Era o único contato, e a procissão reiniciava seu caminhar.

Uma vez, procissão do enterro, eu menina, de anjo, fiquei parada, todos andaram.
Perdida no meio das verônicas e dos centuriões, tentei ver se mexia alguma cortina. Não mexeu.
Eu, passei infância com o pavor de cometer algum pecado contra a carne.
Só mais tarde, quando vim saber o que se tratava, meu horror aos castigos da religião somente aumentaram!

Sábado, fui na missa de bodas dos meus tios!
No Mosteiro. Senti como se tivesse voltado no tempo.
Olhei para cima, e... fantástico!
Lá do alto, eu vi cabecinhas de mulheres cobertas por um veu, ajoelhadas.
Assustada, meio emocionada, perguntei para minha mãe, mais uma vez:
- mãe, são elas ?
- são minha filha, o papa as liberou. Elas já podem participar da missa.

Ah, tentei ver o rosto de alguma.
Qual delas teria cometido pecado contra a carne?

Fiquei olhando pra cima, sem parar, e contei quantas cabecinhas. Eram seis ao todo.
Ah, na minha época de menina eram muitas!!!!
Me dizeram que há anos não entra alguma pra lá.
Elas foram morrendo, e sobraram essas seis.
Quando a missa acabou, todos sairam e eu fiquei. Ali, parada mirei meu olhar para as janelas.
Depois de alguns minutos pude ver a cortina de uma das janelas se mexendo.
Como em um palco, antes do espetáculo começar: - abria e fechava rápido!
Pensei: - sorte dessas últimas seis moças que já podem ver a luz do sol e a luz da lua.
Quem garante, que verão alguma luz depois de mortas?

6 comentários:

Anônimo disse...

estranho demais o mundo dessas freiras..me lembro delas e lembro ainda de um mecanismo tipo roldana de madeira, um armário, que era feito para se colocar coisas para elas..diziam que as vezes colocavam bebes para cuidarem...
uma das coisas que mais me fascinava no colégio de freiras era entrar na clausura das freiras são paulinas para num segundo sequer tentar ver uma nudez qualquer...nunca consegui..algumas advertências somente...mundo estranho...

Anônimo disse...

Ydi, descobri a causa dos tarja pretas rsrsrrsrs que é isso??? Olha eu estudei em colégio de freiras, aliás eram chamadas de madres e acho que nós éramos os capetas pq nem elas davam conta da gente rsrsrsrrsrs. Quanto as freiras enclausuradas, eu sempre tive medo delas mas nunca questionei! e vc ainda parou prá olhar se elas estavam lá? rsrsrsrs imagina, eu nem lembrei disso!!! Pára de pensar muito e analisar as coisas viu? beijos

Anônimo disse...

Gente, eu tb. quando era pequena sentia uma curiosidade enorme com as freiras enclausuradas de São João, sentia até um pouco de medo ou aflição de imaginar que elas não viam ninguém, ão cenversavam, não conseguia entender muito bem aquilo, hoje ao lembrar delas lendo o blog, entendo que na vida há gosto para tudo e que é só uma questão de opção...
Quanto as freiras de nosso colégio Má, eram a vida! E apesar de interesseiras, me deixaram boas lembranças e nenhum trauma...

Anônimo disse...

Méia, as madres do Stelita eram a vida rsrsrsrsr lembra da madre Camarão, madre cocozinho, madre Laura, Zely, Zelinda, filha você quebrou a carteira... rsrsrsrsrrs há....... quantas saudades......como éramos felizes e sabíamos né, Meinha? foi a vida!!!!!!!!!!!!!

FotoJo disse...

mae, que mania de igreja que vc ta!

marilia disse...

gente, tem um cas ótimo...
a gente estudava no sacre-couer, e as irmãs eram alemãs e super bravas...
uma tarde, fomos matar aula, e invadimos o lugar onde elas colocavam as roupas para secar! vcs não imaginam o tamanho das calcolas!! Claro que a Fátima roubou uma , que andou de mão em mão , no clégio inteiro....
eu, era tão implicante, que meu apelido era " não concordo com isso'...rsss
tudo eu queria discutir..
mudei tanto! rsss