
seus pés eram pequenos, dedos bem feitos.
difícil ter gente com pés assim.
suas mãos finas, dedos longos.
cabelos macios, corpo leve, jeito de menina, meio moleque. era ela.
quem a via de perto ou de longe, dizia :
- quanta fragilidade.
essa menina nunca vai crescer.
e ela girava na roda, tocada pelo piano, vestido de pano voando.
era a princesa do pai.
rival natural da mãe.
então veio o tempo que nada perde, passa, leva tudo, e com o vento levou a menina para além do sudoeste.
ensinou a ela poesia, letras e filosofia.
deu-lhe luz e poder. inteligência, força inexorável.
ela, que tinha sido menina, pés pequenos, andou muito.
virou mulher vivendo na paixão.
de dentro dela saiu fogo, como de um vulcão e rolou mundo afora.
mágica a estória, contada em pedras de pérola.
ela viveu um terço. teve filhos. deu risada. chorou cem lágrimas.
fantasiou-se de pirata, de cigana e de dama.
tempo cruel. deu-lhe tudo, ensinou-lhe tudo.
levou -a- paralém do sudeste.
só não lhe avisou, o tempo, que viver tem hora marcada.
ela parou para olhar seus pés.
- dificíl ter pés assim. eles me levam muito longe.
mas ela tem sorte.
seus pais morreram .
de herança ficou um relógio de corda.
cem horas marcadas. seu controle do tempo.
( by idy, livro único, capitulo 5º, versículo nono)
Um comentário:
A menina dos pés alados não tem cabeça de vento. Mas vai longe. E volta.
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