Layout / Art: Ana.

sexta-feira, setembro 29, 2006


seus pés eram pequenos, dedos bem feitos.
difícil ter gente com pés assim.
suas mãos finas, dedos longos.
cabelos macios, corpo leve, jeito de menina, meio moleque. era ela.
quem a via de perto ou de longe, dizia :
- quanta fragilidade.
essa menina nunca vai crescer.
e ela girava na roda, tocada pelo piano, vestido de pano voando.
era a princesa do pai.
rival natural da mãe.
então veio o tempo que nada perde, passa, leva tudo, e com o vento levou a menina para além do sudoeste.
ensinou a ela poesia, letras e filosofia.
deu-lhe luz e poder. inteligência, força inexorável.
ela, que tinha sido menina, pés pequenos, andou muito.
virou mulher vivendo na paixão.
de dentro dela saiu fogo, como de um vulcão e rolou mundo afora.
mágica a estória, contada em pedras de pérola.
ela viveu um terço. teve filhos. deu risada. chorou cem lágrimas.
fantasiou-se de pirata, de cigana e de dama.
tempo cruel. deu-lhe tudo, ensinou-lhe tudo.
levou -a- paralém do sudeste.
só não lhe avisou, o tempo, que viver tem hora marcada.
ela parou para olhar seus pés.
- dificíl ter pés assim. eles me levam muito longe.
mas ela tem sorte.
seus pais morreram .
de herança ficou um relógio de corda.
cem horas marcadas. seu controle do tempo.

( by idy, livro único, capitulo 5º, versículo nono)

Um comentário:

Anônimo disse...

A menina dos pés alados não tem cabeça de vento. Mas vai longe. E volta.