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terça-feira, outubro 09, 2007

Lembranças Brancas

Clausura - Mosteiro - São João Del Rey
Estou fazendo o caminho de volta.
Santiago de Compostela as avessas.
O Mosteiro que fica na rua da Prata é um lugar misterioso,
que me passa a sensação de medo e ao mesmo tempo de prisão eterna.
Minha mãe dizia que tinhámos que passar em silêncio na porta,
para as irmãs de caridade não ouvirem sequer a nossa voz.
- mãe, mas elas ficam presas, sem sair ?
- é, rezando, vida abençoada a delas !
- como mãe, sem ver ninguém?
- nem a outra que esta do lado?
- é minha filha.
- mãe, elas que escolheram?
- ah...algumas sim, outras cometeram pecado contra a carne...
- estão aqui para serem perdoadas...

Essa conversa, é arremedo das que eu tinha com minha mãe,
quando pequena e sempre que passava em frente ao mosteiro.
Muitas vezes, fugia da casa da vovó, e tantas eu fiquei do outro lado da rua,
sentadinha no meio fio, olhando para ele, sempre fechado,
pra ver se mexia a cortina de alguma janela.
Nunca vi qualquer movimento.
Nas procissões, eu ia vestida de anjo, como minhas primas.
Ao passar diante da capela do mosteiro, todos paravam, o andor com o santo principal, o pálio Com o Santíssimo, os homens com as suas capas da irmandade e com as lanternas na mão, a música, o povo, e então, fazia-se um silêncio absoluto.
Minutos depois, da janela mais alta do claustro, aparecia uma mãozinha, delicada, rápida, que jogava uma flor, ou algumas pétalas no santo ou santa que estava sobre o andor.
Pronto.
Era o único contato, e a procissão reiniciava seu caminhar.
Uma vez, semana santa, procissão do enterro, eu menina, de anjo, fiquei parada, todos andaram.
Perdida no meio das verônicas e dos centuriões, tentei ver se mexia alguma cortina.
Não mexeu.
Eu passei infância com o pavor de cometer algum pecado contra a carne.
Só mais tarde, quando vim saber o que se tratava,
meu horror aos castigos da religião somente aumentaram!
Sábado, fui na missa de bodas dos meus tios!
No Mosteiro.
Senti como se tivesse voltado no tempo.
Olhei para cima, e... fantástico!
Lá do alto, eu vi cabecinhas de mulheres cobertas por um véu, ajoelhadas.
Assustada, meio emocionada, perguntei para minha mãe, mais uma vez:
- mãe, são elas ?
- são minha filha, o papa as liberou. Elas já podem participar da missa.
Ah, tentei ver o rosto de alguma.
Qual delas teria cometido pecado contra a carne?
Fiquei olhando pra cima, sem parar, e contei quantas cabecinhas.
Eram seis ao todo.
Ah, na minha época de menina eram muitas!!!!
Me dizeram que há anos não entra alguma pra lá.
Elas foram morrendo, e sobraram essas seis.
Quando a missa acabou, todos saíram e eu fiquei.
Ali, parada mirei meu olhar para as janelas.
Depois de alguns minutos pude ver a cortina de uma das janelas se mexendo.
Como em um palco, antes do espetáculo começar:
- abria e fechava rápido!
Pensei:
- sorte dessas últimas seis moças que já podem ver a luz do sol e a luz da lua.
Quem garante, que verão alguma luz depois de mortas?
(SJDR, outubro- 2006, última bodas do meu tio Nilton, pouco antes dele morrer.)

UPDATE 1:
Achei divertida a charge....

Fonte: Blog do Noblat

UPDATE 2:
Amigos, vejam a beleza do post da Cris sobre o pintor Paul klee
http://crispenaforte.blogspot.com/

UPDATE 3:
Acabei de receber ..vejam como será o novo World Trade Center
http://www.linternaute.com/savoir/world-trade-center-les-nouveaux-projets/world-trade-center-ses-futures-tours.shtml

UPDATE 4:
Encore Che Guevara....
http://www.linternaute.com/savoir/che-guevara-un-mythe-depuis-40-ans/che-guevara-le-mythe-a-40-ans.shtml

25 comentários:

Anônimo disse...

Marília, que coisa ficar enclausurada por cometer "pecado contra a carne"! Ainda bem, que não é mais pecado, né (rs)?
Um beijo grande e um bom dia.

Osc@r Luiz disse...

Puxa Marilia,

Quanta coisa boa tem aqui.
Não conhecia seu belo blog.
Confesso que via você pelos comentários dos tantos amigos que temos em comum, mas ando tão negligente com os amigos por conta de falta de tempo que tenho até evitado nesse momento de conhecer novos amigos e passar uma má impressão.
Mas depois da sua gentil visita, não poderia deixar de te visitar e falar do que eu vi aqui.
Muito bom. Pena eu não poder no momento, conferir o que ficou pra trás. Mas agora que vim, vou voltar sempre que puder.
Muito obrigado e seja sempre bem vinda aos meus mundos virtuais.
Um beijo!

Anônimo disse...

Marilia, to aqui perdida nos meus pensamentos e lembranças da infancia vivida em Minas Gerais, depois no inteiror de Sao Paulo, e no colegio de freiras onde estudei...putz! q viagem!
bjs

O Meu Jeito de Ser disse...

Marília acho que o papa liberou por falta de espaço físico para quem comete pecado da carne né?
Se formos pensar bem, em tudo que nos ensinaram, ficamos arrepiadas né não?
Quantas asneiras enfiaram em nossa cabeça.
Mas o fato é que é assim, tudo isso que vc falou é real.
Um beijo querida.
Você some, e ninguém te acha, como vamos nos falar?
Amanhã, dê beijinho na Moniquinha por mim, tá?

valter ferraz disse...

Marilia, sabe que para mim sempre foi um mistério? Imaginar que alguém por livre e espontânea vontade se deixe enclausurar para o resto da vida. Minha mãe dizia que era por amor ao Cristo. Isso me deixou ainda mais confuso. Já reparou que não existem clausura para homens? Nós enlouqueceríamos. Já as mulheres...
Bom, sei que um bicho que sangra por tres dias consecutivos (todos os meses) e não morre deve ter algo que explique, mas normal, normalzinho não pode ser mesmo.
Querida, gosto demais de voce, viu?
Beijo, menina

Anônimo disse...

Marília, minha mãe é muito católica. E essa conversa de pecado da carne ouvia quando garoto. Foi naqueles idos que descobri que "deus" não existe, e que a "lenda" nasceu no estomago do homem. A tese não é minha, mas do Flávio de Carvalho, de quem já falei no Varal. Mas isso é outra história, que fica para outra vez!


Abçs

Yvonne disse...

Marília, seu post de hoje me deixou um pouco angustiada. Sei lá, bateu uma agonia só de pensar nessas mulheres trancafiadas desse jeito. Eu sempre tive horror a tudo isso.Religião definitivamente é um atraso de vida para algumas pessoas.

Já falei hoje o quanto eu gosto de você?

Beijocas

Luma Rosa disse...

Nada é tão pecaminoso que aos olhos de Deus não possa ser perdoado! Essa era uma forma dos pais controlarem as filhas que não conseguiram bom partido para casamento ou que não tinham dote para tal - a pobreza levava a isso, principalmente a de espírito. É romântico demais falar em pecados contra a carne.
Na minha cidade natal tem o Carmelo e lá diziam que as carmelitas cavavam a própria cova todos os dias. Hoje sei que isso é mentira. Tentavam nos controlar com mentiras.
Beijus, Luma

Anônimo disse...

querida, eu morria de medo do mosteiro qdo eu era menina.. tinha medo de me prenderem lá dentro.. imaginava masmorras medievais.. ahaha

e lá é tão bonito e cheio de paz.

beijoossss... chega amanhã.. chega amanhãaa.. rsrs

Anônimo disse...

Eu também sempre achei essas mulheres o mistério do mistério.As carmelitas descalças então é fantástico.Ter talento para a contemplação é um dom divino e eu queria ter um para mim.
Qt ao Gabeira, eu nunca o vi no plenário da Câmara.Sobre o caso, em que fiz o texto, nem apareceu.Nem de passagem para dizer "Deputado Gabeira votou com o partido".Até o Maluf eu já vi mas ele não.É só assistir a Tv Câmara.Um ausente total.

Anônimo disse...

Mas elas hoje estão na clausura por opção, antigamente era sobrevivência, vida nada fácil,de muita história inventada, será?
Carinho meu procê, flor
beijos

Anônimo disse...

Marilia, essa história lembrou muito minha infância. Meus pais nunca foram religiosos, até porque um era luterano e minha mãe católica...meio que "pró-forma"... mas ouvia muito essas histórias de freiras trancadas e aqui no Rio existiam alguns conventos famosos desse tipo.
E, sinceramente, acho que até hoje não entendo o que leva uma pessoa a ter uma atitude dessas...
Religiosidade ? Não sei...
E a Luma tem razão: já ouvi essa história pavorosa das carmelitas cavando a própria sepultura!!!
Brrrrr.... dá calafrios.... o que as pessoas não inventam para assustar as crianças.... rsrsrs
Um beijo!

Anônimo disse...

idi, que loucura essa clausura... vou te internar la, voce quer??? to com saudades
, me liga, beijos saudosos.

Cadinho RoCo disse...

Incrível o fascínio que causa a clausura. É a tal da síndrome do fruto proibido. Se não pode ver, aí é que quer ver mesmo.
http://cadinhoroo.loginstyle.com

Camila disse...

desculpe a minha ausência nesses últimos dias...
mas andei meio sem criatividade para comentar qualquer coisa aqui...
fiz umas mudanças no meu blog, espero que goste...
daqui uns dias mudarei de novo...
Beijos querida, venha sempre me visitar, adoro suas palavras...
tchau

Anônimo disse...

Essas "lendas" do nosso imaginário infantil... Sabe q eu sou novinha e deveria ter apenas lendas urbanas pra contar, mas por morar em interior sempre tem um monte de disse me disse. Nem de todo é ruim, gosto de me lembrar das histórias q fizeram parte da minha infância. Melhor ainda é crescer e começar a compreender por nós mesmo o q tudo isso significa.
Aiii eu num vô na festa do lançamento da Moniquita aff rss
Bjocas

Osc@r Luiz disse...

Oi Marilia,

A idéia é essa mesmo.
Sinta-se em casa, lá em casa.
A casa é sua também.
Agora já tem até link seu no By Osc@r Luiz e no Flainando na Web.
Vou lá na Cris sim ver o post que sugeriu. Adoro o blog dela tanto quanto estou adorando o seu.
Um beijo!

Karina disse...

Mistérios fascinam e também amedrontam. Tenho doces lembranças da minha infância católica, mas hj acredito q, se alguém quer dedicar toda sua vida a Deus ou a alguma religião, o melhor caminho é se dedicar ao próximo, fazendo boas ações, vivendo pela caridade.
Mas não há como não ficar curiosa sobre essas "cabecinhas", que caminho as levaram a optar por uma vida de clausura, o que sentem, o q almejam.
Delícia de post, me fez viajar no tempo.
Bjks!

Monica disse...

prima, e a roda de madeira que tinha no mosteiro pra colocar criancinha abandonada? lembra disso? sempre olhei para aquela roda pensando em quem colocava uma criança ali e o que as freiras faziam com os bebes masculinos...
..de vez em quando eu batia na madeira e virava a roda só pra ver se aparecia alguém, mas elas nunquinha..nada...só o vazio...

Sonia Sant'Anna disse...

Ai, Marília, sua crônica foi tão linda, despertou tantas emoções que nem sei o que dizer.

Anunciação disse...

Querida Marilia,naquele tempo,de certa forma era uma maneira das familias preservarem suas meninas que "pecaram contra a carne"(ter relações sexuais fora do casamento ou antes dele);a alternativa era a zona ou ficar na boca do povo que até hoje não tem nada a ver com a vida alheia mas assim mesmo,cuida.Mas hoje ainda existem as que escolhem a clausura,o isolamento,para exclusivamente viver em trabalho e oração pelo resto do mundo:nós,que elas não conhecem,não sabem quem somos,mas que fazem questão de viver em eterna comtemplação,reflexão,sem nada que as distraia,para orar pela humanidade,dar gloria a Deus,agradecer as graças alcançadas,enfim,viver exclusivamente em contato com Deus.

Anônimo disse...

Marília querida,
Tudo bem? Desejo que sim!
Fico feliz que tenha gostado do post, adorei conhecer Paul Klee, obrigada!
E tb pelo link aqui, muito legal isso viu?
Mas já tem post novo...se quiser, apareça!
Seu post me lembra minha infância aí em Minas...morei 05 anos, dos 05 aos 10 em Conselheiro Lafaiete, onde mora a família de meu pai até hoje...ia muito às cidades históricas, parece que vejo tudo direitinho como você descreveu...

Beijo carinhoso,Cris

Andre Jerico disse...

Menina, senti até o gosto e o aroma dessas palavras de quem encontra nos paralelepípedos pisados as figuras de outrora. Vc as vê em poesia.

Adorei, querida

Beijo

Andre, um Jerico
www.ideiadejerico.com

Anônimo disse...

Não consegui postar de novo Marilia... Vc pôs um bloqueio anti Jerico?

Vou te denunciar na sociedade protetora dos Jericos chorões.

Beijo tonta

www.ideiadejerico.com

Sonho Meu disse...

Marilia mon amour,
Um presentinho pra tí lá no meu blog.
bjos,
me