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domingo, julho 29, 2007

CUBA - 1985


foto by marilia
Vou contar aqui, uma viagem que fiz a Cuba...
Não tem o relato abaixo, qualquer pretensão jornalistica ou literária.
existem publucações e reportagens genias sobre a ilha.
Trata-se de tão somente, minhas impressões, e acredito até, narradas de maneira pueril.
Respondendo a uma pergunta do André do “marmota”, e tendo em vista a atitude insana do comandante Fidel castro na noite de ontem, vai o primeiro capitulo!

Que papelão, senhor comandante!!!!
Há mais de 20 anos, mais ou menos em julho de 1985 tive a chance inusitada e única de conhecer a ilha de Fidel Castro.
Naquela época, vivíamos no Brasil, momentos únicos, pois havia sido dada anistia aos presos políticos asilados e eram tempos de vibrações positivas e muitas esperanças.
Cuba era na minha imaginação tudo aquilo que lia e ouvia de pessoas que conheciam alguém de lá, que escreviam livros sobre Fidel e sua ideologia, de como ele havia vencido o capitalismo e a corrupção americana /internacional, e implantado um socialismo verdadeiro, onde a vida seria no mínimo cheia de esperanças e expectativas positivas para os cubanos.
Todos, sem exceção, diziam ser o lugar e o sistema ideal.

Era um congresso de psicologia, o que por si já seria estranho, se não fosse coisas entre Brasil e Cuba. Psicologia em país socialista?
Eu trabalha na época na secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, e estava rodeada de peemedebistas, esquerdistas recém liberados da obscuridade, e que, como eu, passaram a ocupar cargos em quase todas as secretarias do governo..
Ah... Se eu tivesse prestado atenção...
JÁ ERA TUDO IGUAL DESDE O RECOMEÇO....
Teríamos que apresentar um trabalho, que se aprovado pela comissão da universidade de Havana, poderíamos ir representando Mina Gerais e seríamos debatedores no aludido congresso. Interessadíssima, procurei a Tininha e o Régis e juntos, elaboramos um trabalho bacana, sobre internações de presos políticos brasileiros em hospícios, á época da ditadura militar, pois eles eram considerados loucos após horas e horas de interrogatórios...
Muitos presos politicos da época da ditadura morreram internados para sempre amém, em hospícios...
JAMAIS PODERIA IMAGINAR QUE EM CUBA TAMBÉM ERA ASSIM...
Quem discordava de Fidel, e que havia escapado da morte no “paredon”..., estava internado, e pude ver e conferir isso lá, “in loco”, durante a viagem...
Não vou me alongar.
São lembranças que não me agradam. Saímos de São Paulo, vôo especial todos com ficha passada e aprovada pela policia federal, sendo curioso que mais de 90% dos passageiros já haviam passado pelo dops ou locais de recolhimento semelhantes....
Com parada obrigatória na Venezuela, onde esperamos dois dias pelo avião de força aérea cubana, chegamos em Havana em uma sexta-feira ,por volta do meio dia.
Meu coração pulava pela boca, quando o piloto anunciou que sobrevoávamos a ilha.
Olhando para baixa, me belisquei. Gente tem alguma coisa errada...
Só vejo bananeiras e arvores...
Gente, parece que voltamos, tem certeza??
È Cuba????
Era Cuba, e logo percebemos ao desembarcar.
Todos fielmente iguais, negros e lustrosos, em seus uniformes caquis, outros verdes.
Nenhum turista, nenhuma loja, nem lanchonetes no aeroporto.
Era tal qual uma base militar.
Entregamos o papel da autorização, depois de ficarmos enfileirados bom tempo, pois cada documento era conferido com as bagagens, que foram abertas e reviradas, tais como fazem até hoje quando entramos na livre e democrática América = EUA......
(os: em Cuba eu não meti a testa no pratinho...)
Os ônibus, novos, que esperavam para conduzir – nos aos hotéis, pude perceber, destoavam in totum de tudo em volta!
E foi assim, já dentro de um ônibus que não era para ser utilizado por cubanos, cartão de visita de uma ilha cheia de fantasias e mentiras, que entrei na cidade de Fidel...
Havana, meu amigos, tem uma única cor: - desbotada...
O contraste de edifícios e prédios, que estão há tempos sem pintura, restauração, sequer manutenção, transformou o verde, o bege, o amarelo ou o rosa em uma cor única:
-a de Havana
Bela e imponente, a cidade dos morritos e dos daiquiris, da música, e da arte do vodu, me mostrou o melhor e o pior da ditadura de Fidel.
A pobreza, o sonho, as escolas, a fome, os hospitais, a falta de moradia, e falta de respeito ao ser humano. vizinhos delatando vizinhos, um amontoado de familias em 100 metros quadrados de casas/apartamentos, banheiros unicos, a serem utilizados por 10, 15 pessoas...

O roubo, o desespero, a prostituição explicita nas ruas, a traição, a tristeza, de ver, que a revolução socialista de Fidel, havia se transformado em uma ditadura, onde o povo tinha escola, médico e dentista, mas não tinha liberdade de ir e vir, de morar, de falar e de contrariar as ordens expressas do Comandante.
Vi as castas políticas andando de carro e circulando nas inúmeras recepções que fomos, pois o Congresso era um grande engodo, era uma tentativa de mostrar Cuba para o Brasil, e para o mundo, de mostrar um cuba que seria verdade se não fosse
Que a força dele era única e pessoal, seu carisma inegável, seu porte (á época), atlético e de herói sedutor, mas sobre ele pesavam mortes e tragédias, e foi a primeira vez que ouvi a estória de que Guevara havia sido morto pelo “El comandante em chefe – Fidel”.Foi minha primeira e grande decepção com todos os meus sonhos e ideias libertários da minha juventude.
Depois , quando voltei, decidi virar profissional liberal. Autônoma.
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Ontem, ao mandar buscar na vila olímpica do Rio de Janeiro seus atletas, o comandante, mesmo no leito de morte, deu mais uma mostra de sua força e de seu poder.
Depois que fui a Cuba, deixei de saber de onde vem essa força.
Quem souber, me diga.
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UPDATE

Cerca de 800 pessoas participam nesta manhã, no município de São Paulo, da manifestação para pedir ao governo respeito e soluções imediatas para a crise aérea, segundo a Polícia Militar. O levantamento foi feito às 9h30.
» Veja mais fotos » Veja lista de vítimas» Opine sobre o assunto» vc repórter: mande fotos e relatos
Entretanto, estimativa da Guarda Civil, das 10h, aponta que cerca de sete mil pessoas estavam na praça Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, local da concentração da caminhada. De acordo com a organização do evento, cinco mil pessoas participaram da caminhada.
Redação Terra
UPDATE/30/07
vejam a edição especial do blog do eduardo

21 comentários:

Anônimo disse...

Lindo e triste, Marília. Conheço histórias parecidas com a sua, sobre "A Ilha" e alguns de seus personagens. Impressionante como, com essa loucura toda em que vivem, ainda conseguem ser potências esportivas e na medicina, no Ballet, na música, na alegria de viver, na criatividade...
Mesmo assim, não perco minha vontade de ir pra lá ver a COR DE HAVANA!
E realmente foi um papelão a decisão de antecipar a viagem da delegação... Sem comentários!
Beijos.
Ana.

Ps.: Vamos combinar de encontrar hj? Me liga se estiver bem, ok?

Priscila Pires disse...

Lamentavel mesmo mamys...
ainda sim nao me tira a vontade de visitar...
e sinceramente acho que esse tal de socialismo ai nao passa mesmo de uma ditadura disfarcada!enfim neh...mais uma vez o homem lutando pelo poder...
bjosss

valter ferraz disse...

Marília,
não existe texto maior ou menor. Existem os sentimentos vividos. É assim que lí o seu depoimento.
Quando se tem dezoito ou dezenove anos, todos somos socialistas. A "ficha" cai um pouco de tempo depois.
Eu lí o livro do Fernando Morais "A Ilha" comprei o exemplar número 43 da primeira edição. Lía tudo o que saía sobre a ilha cubana. Mas a essa época já era só para comprovar o que eu pensava. Nunca tive grandes ilusões. Não existe regime político perfeito. Menos ainda regimes de força, que mantém o controle através das armas.
Conhecí uns cubanos que vieram estudar na USP e tinham "olheiros" acompanhando os passos 24hs por dia dos caras. Queriam saber o que conversávamos, aonde íam. Um inferno. Isso não é liberdade.
Esse caso agora do PAN que eu não acompanhei direito, mas reflete bem isso.
Enfim, ainda sou partidário do pensamento que a democracia ainda é o melhor dos piores regimes.
Mas tudo isso serve para que mais gente veja no que desagua essas aventuras de acreditar em salvadores da pátria. Eles traem os ideais de jovens, e não jovens. Na primeira oportunidade chamam os seus iguais, e repartem entre sí. Vivem dos privilégios e à custa da miséria e ignorância de quem os elegeu.
Bom, vou parar por aqui senão vira discurso político e há muito tempo me desinteressei por isso.
Fique bem,
um beijo, menina

Anônimo disse...

Só para fechar seu post, a notícia que saiu agora a pouco na UOL:
"Os atletas que participaram dos Jogos Pan-Americanos cumpriram com a obrigação com Fidel e Raúl, e, sobretudo, com o povo" disse o telejornal de Cuba.

Triste. A falta de liberdade é realmente muito triste.

Beijos

Blog do Beagle disse...

Marilia, eu não sei porque, mas desde menina, jamais me encantei com Cuba ou com Fidel. Jamais tive ilusões. Meu marido cansou de querer me levar para conhecer a ilha. Não quero ir lá. Não qiuero ver a pobreza e a ruina da cidade colonial. Sei, por quem esteve por lá, recentemente, que seu relato é atualissimo.
Bjkª. Elza

anderson.head disse...

Olá Marília.

bom, estou sem atualizar o blog, muito trabalho, só trabalho.

Quanto essa história de Cuba, fiquei realmente impressionado, com o poder de Fidel.

abraço.

Yvonne disse...

Marília, fiquei feliz ao saber que nós ajudamos para o sucesso dessa caminhada. Beijocas

Anônimo disse...

Você gosta de Pedro Juan Gutierrez, não é mesmo?
Trilogia Suja de Havana, o Rey de Havana...
Beijos,

Anônimo disse...

Sou doido para conhecer Cuba.
Beijos,
Felipe Simpa
www.zepereiranoticias.blogspot.com

Ah, o meme dos livros tá lá sim. Só que precisa pesquisar. Beijos de novo,

Yvonne disse...

Eu de novo para comentar sobre a sua viagem. A sua impressão é a mesma de um monte de gente que conheço que já foi lá. Faço idéia de como você ficou decepcionada e ainda tem gente que acha esse cara o máximo. Beijocas

Anônimo disse...

Marilia, eu era jovem quando Fidel assumiu a Ilha.
E para mim - já naquela época - era mais do que evidente que a URSS fez de Cuba uma vitrine para o mundo. Quem era problema para Cuba fugiu para os USA. Quem era contra = paredón. O sucesso de Cuba nos esportes, Medicina etc, faz parte do embelezamento da vitrine. Poderiam até ter lançado um homem ao espaço antes dos USA. Seria a glória fidelista e soviética...

Além do mais, Marilia, comparar Cuba com o Brasil, é uma brincadeira equivocada, para não dizer - com todo o respeito - pouco inteligente. Fisicamente falando quantas Cubas cabem dentro do Brasil? 76,8 Cubas...
A nossa população 16,5 vezes maior. E vai por aí.

Tudo bem, aceitaram assim. Não é estranho que o cubano aceite certas coisas. Se aqui os nossos intelectuais, como exemplo, Chico Buarque não fazem outra coisa a não ser endeusar o sr. Fidel, porque não eles? Calaram-se diante dos assassinatos de dissidentes políticos acontecidos há uns 10 doze anos. Não estou defendendo o que aconteceu no Brasil, mas por que condenar só no nosso país?

Marilia, minha querida, infelizmente eu tenho de lhe fazer uma pergunta, e ficarei imensamente feliz se você me responder posisitvamente: você escreveu um depoimento semelhante a este naquela ocasião? 1985? Se disse decepcionada com o que pensava ser o Paraíso Cubano? Se não tinha outros veículos de comunicação para fazê-lo, lançou mão de cartas aos leitores dos jornais? Esses abandonos de delegações não são novidade. Sempre aconteceram.

Infelizmente nós brasileiros temos a mania de achar que tudo o que de fora é maravilhoso, melhor do que o nosso. Claro, não somos perfeitos, mas nada de exageros.
Veja o PAN-AMERICANO. Lembra-se da Olimpiada de Munich? E das outras? Nenhuma medida de segurança foi adotada? Claro que sim. Lembra-se da ida de Bush a SP há uns 3 meses? E nós aqui achando que o PAN foi um fracasso porque o refrigerante do voluntário estava quente e o sauduiche frio. Porque uma pessoa furou a fila. Porque teve de ser revistado. Um fracasso porque o presidente foi vaiado e fez beicinho. Eu estive lá, não vaiei, mas me arrependi de não tê-lo feito depois do que aconteceu com o jato da TAM. Esperar acontecer para depois tomar providência.

Desculpe-me, Marilia, pelo espaço tomado, mas eu vi ali embaixo "comments" e cá estou.

Um beijo muito afetuso pra você.
E meus parabéns pelo belíssimo post.

Adelino

Anônimo disse...

Guenta aê! que lerei e responderei no seu email!!

marilia disse...

Amigos, realmente tenho outras historia sobre o que vivenciei lá, além defatos tristes. quisera ter tido na época, Adelino, o bom senso de avisar ...mas, ao meu primeiro comentário negativo, fui quase que excluida da minha roda de amigos, pois naquela época, elogiar Cuba era o máximo, mesmo já tendo gente da pesada escrevendo sobre a real - realidade...
fiquei sempre com essa marca, e acreditem, somente depois de cuba que decidi deixar de trabalhar na secretaria de cultura e fui crescer sem pretender um lugar no estado... não que eu ache que todos que trabalham no estado sejam errados, ou aproveitadores, mas ,naquele momento foi A decisão que eu entendia como representativa para a minha virada. Nunca fui direita, ( duplo sentido mesmo), e briguei pelo voto pro Lula até ano passado. ainda me questiono, e tenho sentimentos contraditórios quanto a ele.
mas, o que estamos vivendo, é , num todo, vergonhoso e desgovernante, desconcertante...
obrigada pelos depoimentos, Valter, ana, yvonne, elzinha, sandra, adelino, anderson...

Anônimo disse...

Minha querida Doutora, sempre digo que sou democrata não por opção mas sim por necessidade. Não vejo qualquer alternativa num regime que se baseie na supressão da liberdade, seja ele nos Estados Unidos capitalista ou na Cuba socialista. Entre esses dois pontos equidistantes prefiro a pseudo-democracia brasileira.

Lord Broken Pottery disse...

Marilia,
Quem se mantém tanto tempo no poder, sem acreditar que alguém possa fazer melhor, não bate bem da bola. Deveria estar internado em um de seus hospícios. O problema do poder é que deixa as pessoas insanas.
Grande beijo

valter ferraz disse...

Marília,
o comentário do Adelino foi completo. Daria um post daqueles, dos bons.
Ainda bem que sempre há tempo para um revisiosnismo, não é mesmo?
Beijo, querida

Anônimo disse...

Marília:
Também estive em Cuba e o que vi foi um povo alegre, descontraído, que recebe os brasileiros como se fossem outros cubanos. Vi também pobreza, mas não miséria. E vi gente educada, bem assistida de saúde.
É verdade que não há democracia na ilha, mas o povo não é autômato e procura viver sua vida de acordo com o que pode.

Fabiana... disse...

que história, marília!
adorei ler sobre sua vivência... quando puder e quiser nos conte mais sobre cuba. vou adorar!
beijocasssssssssssssss e boa semana!

valter ferraz disse...

Marília,
e você viu Cuba lançar?
Desculpe-me perco a amiga, não a piada.

beijim

marilia disse...

Ah Valter...vc esta impossivel..
lino, não acho que os cubanos sejam autômatos, mas um povo que não tem o direito de ir e vir dentro de seu proprio pais, e que não consegue adquirir ao longo da vida sequer uma moradia digna, é um povo oprimido e infeliz. Bom saber que vc viu o outro lado que eu procurei e não achei...
bjos

Anônimo disse...

OLá querida amiga Marilia,boa tarde
É, realmente voltei um tanto quanto
indisposto, é diferente de preguiça
acho que é efeito do fuso-horario rssssssssss. Olha o pouco que conhe
ço de Cuba, é através da literatura
e TV e cinema. mesmo assim muito pouco, pois nunca gostei da forma
como este Sr. trata seres humanos.
Pra mim pouco importa seus medicos,
sua vacinas e seus atletas se não existe liberdade para o povo, por
que para os apaniguados sempre exis
tiu. Forte abraço e paz.

Ps: o meu Santos esta uma draga, mas o seu Galo, que beleza Rssss ...