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domingo, agosto 19, 2007

Bar ruim é lindo, bicho!

Ganhei um livro de presente do pai da Maria Júlia
-As Cem melhores Crônicas Brasileiras -
(seleção Joaquim Ferreira dos Santos)
Ele disse que folheando o livro, encontrou uma crônica do Antônio Prata.
Daí se lembrou de minha turma de faculdade e resolveu me dar o livro...
Segundo ele, o texto abarro é a "minha cara!
Gente... o pior é que ele tem 50% de razão!!!
Vou postar a cronica, que é genial..


Bar ruim é lindo, bicho.
Por Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
"Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil.
Assim como não é qualquer bar ruim.
Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.
Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas.
Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó.
Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.
Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider.
Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.
E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem.
Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo.
Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato.
Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.
Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil!
Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo.
Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?
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Antonio Prata (24/08/1977) é paulista e tem os seguintes livros publicados: "Cabras, Caderno de Viagem", com Paulo Werneck, Chico Matoso e Zé Vicente da Veiga, "Douglas e outras histórias", “As pernas da tia Corália” ,"Estive pensando" e "O inferno atrás da pia".

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update


Fui indicada pela Ana , para o premio blog 5 estrelas!!!!
Brigadu...
Dando continuidade, eu indico mais 5 blogs!
Acho dificil pois sem demagogia, eu adoro todos os que visito...
Mas, vamos lá:
1) Mineirasuai
2) Prás cabeças
3)Varal de ideias
4)Bloggente
5)Lord Pottery

As regras vc s podem olhar na Elza, do blog Nada Pra Mim, e o resultado sairá no dia 31 de Agosto!

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up date 20 DE AGOSTO...

1) GENTE, EXISTE ALGUMA FORMA DE AJUDARMOS AS VÍTIMAS DO PERU?

SE ALGUEM SOUBER, DEIXE RECADO NO COMENTÁRIO....

BOM DIA...BOA SEMANA!

28 comentários:

valter ferraz disse...

Marilia, muito boa a crônica.
É a cara dos meio intelectuasis, meio de esquerda e com mulheres meio gostosas. Encaixa-se bem no contraponto do post "mulherzinha". Sou mais este, com certeza!
Bom domingo,
Um beijo grande

Yvonne disse...

Marília, eu vou comprar esse livro. Gostei da crônica. Espero que você tenha um gostoso domingo. Morra de inveja, daqui a meia hora irei à praia. Beijocas

Anônimo disse...

Bom dia, Marília:

Tô meio mal-desperta. Aprova o meu Skype, please?


Gostei muito do teu C + V. Sou assim ou fui assim como o autor também, não me arrependo de ser vanguardinha jurássica e quer é mais.

Beijos, querida,

Ana Leticia disse...

Hummmm! Cheio de links no texto, heim? hahahahaha
Aprendeu direitim? ;)
bjos

Ana Leticia disse...

Nossa, fantástico o conto do Bar Ruim!!!! Adorei! :D
beijo

Anônimo disse...

Mar�lia, � uma honra receber PR�MIOS e ainda mais quando a origem � desta qualidade!
Muito obrigado. Como j� votei uma vez, nada a fazer desta a n�o ser levar o selo. E este tem cara nova!

Bjs

Yvonne disse...

Marília minha fofa, quem não gosta de ser acarinhado e receber prêmios? Lógico que eu gosto. A minha dificuldade é premiar porque não consigo escolher apenas alguns. Menina, muito obrigada pelo carinho da sua lembrança. Adorei ter sido lembrada e escolhida por você. Te amo muito, muito, muito. Beijocas

Elza disse...

Alvarenga, que bom que vc esta participando, desejo sorte viu!!!
Para seus votos serem validados preciso receber o link dos seus indicados ou o link para este post por email. Aguardo.
=]

Anônimo disse...

Ai, ai, meio mundo se enquadra nessa crônica.
Muito boa...
Parabéns pelo prêmio, flor, merecidíssimo!
linda semana
beijos

Fabiana... disse...

oi marilinha! saudades enormes de vc! adorei a crônica. muito boa. tem gente que tem o dom de escrever...admiro muito isso, muito mesmo!
parabéns pelo prêmio... vc merece e muito!
beijocasssssssssssssssss querida e uma semana especial!

Anônimo disse...

Acabo de descobrir que sou meio intelectual e meio de esquerda rsrsrs.. muito bom essa cronica... por isso que amo vir aqui... beijo blue

http://noelevador.zip.net
http://nabolsadamulher.blogspot.com

Anônimo disse...

kkkkkkkkkk...amei esse texto...muito bom mesmo..dei risada, acho q eu tb sou esse meio intelectual meio de esquerda tb... se esse cara ta procurando bares ruins ele pode ir ao centro de Belo Horizonte ( alias eu moro no centro de belo Horizonte ) tem coisa melhor do que descobrir q seu cigarros acabaram as 3 da manha mas o bar vagalume é 24h? rsrsrsrssr... acho q aq é o epicentro de bares ruins, alais em Bh não tem praia, mas tem bar pra dar com pau...beijossssssss

http://noelevador.zip.net
http://vidacretina.zip.net

Sonia Sant'Anna disse...

Adorei, não sou meio-intelectual meio de esquerda mas adoro boteco com mesa de lata, cerveja de garrafa e pastel. E também fico pê da vida quando sai na Vejinha e vira barzinho cult. Aqui uma prece pelo finado Bofetada, na Farme, o melhor bar ruim que já houve em Ipanema, aí saiu na Vejinha e em tudo quanto é jornal... Ah, outra prece pro Veloso, atual "Garota de Ipanema".

Anônimo disse...

idi, amei essa cronica. depois mande mais,e sempre bom ler. tai, vou comprar esse livro... beijocas

O Meu Jeito de Ser disse...

Muito bom o texto, bom se ele tem 50% de razão, só quero que vc seja minha amiga 100%, nada de meio amiga heim?
Beijo menina, linda semana.

Yvonne disse...

Marília, não sei como ajudar o povo do Peru. Se alguém responder, me avisa, tá? Acho que você jogou urucubaca na minha praia. Foi chegar lá e o céu ficou cinza. Minha vingança será maligna.
Beijocas

Anônimo disse...

Sensacional essa crônica! É exatamente isso, e eu meio que faço parte dessa turma, hehehe!

Zé Pereira Notícias disse...

Rá, amei. Eu que sou frequentador do Maletta e intelectual de quase-esquerda me encontrei.

Quer dizer que não sou só eu que penso assim?

Beijos,

Ah, o meu blog tá meio parado, né?
Eu quase não publico nada, num mix de falta de tempo e preguiça. Minhas idéias acabaram. Bom, no mais, um beijo.

Elza disse...

O email que vc deve enviar os seus indicados é este: elzinhalinda@gmail.com
(peço que envie os links.
boa semana.
=]

Priscila Pires disse...

Mamys!!!!
bar eh bar...se eh ruim melhor ainda!!!kkkkkk
parabens pela indicacao!!!
bjo grande e uma linda semana!

Anônimo disse...

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda somos assim mesmo. Só que, chega um momento que tudo isso cansa, e a gente, mesmo sendo meio intelectual e meio de esquerda, quer tomar um chop decente.

Anônimo disse...

Não sei, essa crônica se encaixa muito em nós mineirim...boteco é coisa de Minas, o resto do Brasil é barzinho!
Parabéns pelo voto 5 estrelas, merecido! Beijus

Zé Pereira Notícias disse...

Estava com saudades de você. Enfim, voltei à vida virtual. Que tal?

Beijos,

(Preciso ainda de idéias)

Anônimo disse...

Eu me identifiquei muito com essa crônica... Grande Antônio Prata!! è a nossa geração com bons valores!!!

Bravo disse...

Excelente crônica, mas pra mim, os bares "bons" é que são os RUINS...

Luma... tem buteco aqui em Jundiaí-SP também... foi num deles que surgiu o Xinaipes.

Existem butecos e barzinhos... depende da ocasião, digo isso pois todo meio intelectual, meio de esquerda, é um "quase" inteiro de emoções e sentimentos, que precisa de uma companhia mais íntima (assim como qualquer um), sendo necessário então, a existência do bar "bom".

Viva os butecos e as amizades que lá fazemos.

Anônimo disse...

Oi Marilia querida, muita saudade é pouco. Um dia eu ainda vou escre
ver assim,eu não sei bem o que eu sou, acho que não sou porra nenhuma
mas nunca gostei de bar zinho. Sem
pre gostei de boteco copo sujo, nun
ca tomei cachaça em cálice só em co
po americano. Crônica maravilhosa,
tendo a cara de quem for e falando
bem do meu nordeste!! É 10 NOTA 10.
Bjões e DEUS te abencoe.
Ps: se tiver como ajudar os peruanos, tô dentro.

Lord Broken Pottery disse...

Marilia, querida,
Só agora consegui vir agradecer. Obrigado, viu?
Beijo

Anônimo disse...

A crônica até que é boa. Pena que o cara é meio de esquerda. Estragou tudo...